[post #024] Entrevista com Édy Leonardo, lo-fi sad soul nacional

Vozes do Underground
Entrevista com Édy Leonardo
lo-fi sad soul nacional

Édy Leonardo é mais uma das inúmeras figuras pouco conhecidas a fazer grande música na web. Sob o título de Happy Hearts, ele lançou um EP carregado de melancolia que me cativou no ato: Lost inside (que você ouvir e baixar aqui). Para além do tom sombrio de suas músicas, Édy é uma pessoa muito amigável e atenciosa. Trocamos muitos e-mails e aqui vocês poderão saber mais sobre ele:

GM: Em um futuro próximo você deve seguir com seu nome próprio ou devemos aguardar o surgimento de novos projetos?
Édy: Bem, cada um dos meus projetos tem sua própria identidade. O que carrego de um ao outro na sonoridade é a simplicidade das gravações, prezando o LO-FI (baixa qualidade), mas todos têm de fato uma conexão, a expressão melancólica, o sentir e um certo expurgo através das canções formam a essência que se encontra nelas.
O primeiro projeto Instrumental/Ambient propriamente dito foi o Nostalgia Infantil, exposto na internet em maio de 2015, porém em 2014 eu já havia gravado algumas canções mais como um teste, e até mesmo para expurgar emoções confinadas, digamos que foi um instante de explosão. A este projeto chamei de Dye Naleadoor, um anagrama para meu nome com uma letra ‘a’ a mais, pois achei melhor a pronúncia, rs.
A sonoridade não teve uma identificação clara, alguns disseram ser um Soft Depressive Black Metal, pois ficou “leve”, porém com letras focadas nos temas abordados pelo DSBM, e o EP intitulei de Pain and Thrash. Em 2015 criei um SPLIT com uma faixa deste projeto e outra de um projeto similar, porém com letra em português chamado ‘Sertralina 300mg’, que é o nome de um antidepressivo. E, por fim, neste ano ainda gravei um EP com 3 faixas, encerrando o projeto Dye Naleadoor; com o título Killed By Words, totalmente diferente do anterior, com uma sonoridade mais pesada, próxima então do DSBM puro, também com uma linha de Doom/Dark Metal. Divulguei apenas algumas canções desses projetos no YouTube e Soundcloud, porém eles podem ser baixados, completos, via 4shared.
No início de 2016, então, dei forma ao Happy Hearts, que segue a linha Instrumental/Ambient; e mais recentemente compus algumas canções numa linha Indie Folk, já com meu nome real, e com letras em português.
Mas como citei acima, há um encontro dos projetos despencando em mim, entidades separadas à primeira vista, mas unidas na essência. Eu não gosto de rotular nada, mas digamos que cada projeto é uma etapa, um momento de minha vida… essa seria realmente uma boa definição.
Muito provavelmente surgirão novos projetos, cada um com sua própria identidade. Usar meu nome próprio foi como encerrar um ciclo. Todos os projetos até o atual se entrelaçam de uma maneira e outra. Os novos trafegarão por caminhos diferentes, embora os sentimentos e as emoções certamente continuarão intensas, com a pitada de melancolia sempre presente.

GM: De fato, a melancolia é um traço permanente em seus lançamentos. Ao fazer música você se sente melhor, como se a música fosse algum tipo de terapia?
Quais são suas fontes de inspiração?
Édy: Sem dúvida a música é uma terapia para mim, e não me considero músico, este é um termo geralmente usado para quem une emoção e teoria/técnica, eu no entanto nunca fiz uma aula de música, de um instrumento em particular ou de canto, me considero um mero curioso que usa a música de maneira amadora, para dar forma ao que se oculta em minha mente. Essa maneira de me expressar foi a melhor terapia que eu poderia fazer, a música sempre me encantou, ouvi-la me transporta para mundos diferentes e, então, ao ousar criar algo envolvendo a minha própria vida realmente me fez e faz bem.
Minha principal fonte de inspiração é a Natureza. Sempre admirei a beleza que ela exala e, usando isto na música, procuro deixar fluir os sentimentos e emoções confinados em mim, ainda que muitos sejam rotulados de ruins eu vejo como parte de mim e não categorizo como ‘bons’ ou ‘ruins’. A Natureza não julga e tento fazer o mesmo, não julgar o que sinto, apenas deixar fluir livremente.

GM: Bom, você pontuou que a natureza é a sua principal fonte de inspiração, mas acredito que a música também tenha um papel importante em seus processos criativos. Nesse sentido, eu gostaria de saber quais bandas/estilos têm influência sobre você e sobre sua música.
Édy: Bem, sou bastante eclético, não me limito a gêneros ou vertentes, tudo aquilo que é exalado com sentimentos e emoções genuínas sempre me atrai. Comecei a ouvir música, por assim dizer, aos 6 anos, através de bandas com som pesado, punk rock e death metal pra ser exato, e então com o passar dos anos fui conhecendo outros gêneros e vertentes, e me encantando com a maneira que os músicos transmitiam seus sentimentos. Então posso dizer que há uma gama de influências, o ‘faça-você-mesmo’ ideia oriunda do punk rock por exemplo está sempre em meus projetos, algo mais simples possível. Mas bandas que ouço bastante e que continuam me inspirando a criar algo meu, que exalam o Édy de maneira genuína, são: Burzum, Agalloch, Vàli, Öröm, Empyrium, Death In June, Forseti, Falkenstein, Eluvium, Hammock e Sparklehorse. Mas há tantas outras que sempre influenciam em algo e, também, estou sempre conhecendo novas bandas/projetos, ou talvez já não tão novas assim, mas que alguém me indica ou mesmo vejo em sites e blogs (como este) e me fascinam.

GM: Cada um dos seus projetos têm apresentado diferentes feições até o momento, como já observado; você está trabalhando em algo novo, atualmente? Quando teremos novos lançamentos???
Édy: Estou sim! E diria que sempre estou, pois gosto de expressar meus sentimentos e emoções na escrita. Exponho meus pensamentos, experiências, vivências em forma de analogias, poemas ou textos diretos em primeira pessoa. Não escrevo com objetivo de transformar em canções, mas por fim boa parte se transforma em música, e até mesmo nos projetos instrumentais há base no que escrevo, as vozes ficam a cargo dos próprios instrumentos.
Meu próximo projeto é uma ideia que já carrego há um bom tempo, mas não quero dar vida à ele sozinho e encontrar parceiros que estejam a fim de levar adiante não é tão fácil. Neste último mês encontrei duas pessoas que se mostraram interessadas e vamos marcar alguns ensaios, então mostrarei algumas gravações caseiras. A proposta é um Post punk, gosto muito do gênero por fazer algo que considero difícil: unir um som dançante com letras mórbidas, depressivas, melancólicas. Não é uma tarefa fácil, mas temos grandes nomes que eternizaram isto.
Como me considero um curioso musical ao invés de músico, eu não fico limitando a compor para um único gênero/estilo, então vou experimentando dentro daquilo que gosto e consigo fazer. Banda propriamente dita eu nunca tive, se esta se firmar será a primeira, e provavelmente um EP poderá surgir ainda no próximo ano.
Porém, projetos paralelos continuarão com certeza, sempre surge uma ideia nova que acabo transformando em música. Como disse, é a única terapia que deu certo para mim. Sinto-me bem ao usar a música.

GM: Qual é o disco que você mais ouviu em sua vida?
Édy: Posso citar dois discos: Mondo Bizarro dos Ramones, e Bleach do Nirvana.
Apesar de não ter mencionado estas bandas como influências, ambas carregam o que mais aprecio na música e o que tenho procurado trazer em minhas próprias composições: simplicidade.

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GM: Qual você apontaria como o disco de 2016, até agora???
Édy: Tarefa difícil, pois neste ano tivemos belíssimos trabalhos, alguns que foram os últimos (Blackstar do Bowie), outros muito aguardados (A Moon Shaped Pool do Radiohead), outros repletos de originalidade e melancolia, texturas sombrias e vozes inebriantes (Pussy’s Dead da Autolux) e (Atomic do Mogwai), e outros que refletem trafegar por novos caminhos sonoros (Água Rosa do Nvblado), mas entre todos fico com o disco de uma dupla que faz um jazz muito bom, e carrega acima de tudo melancolia da primeira faixa até a última, e este sentimento é o que me atrai na arte. O disco A Cosmic Rhythm With Each Stroke da dupla Vijay Iyer & Wadada Leo Smith.

GM: Existe algum artista/banda/projeto nacional obscuro que você gostaria de recomendar aos nossos leitores???
Édy: Gostaria de recomendar o projeto de um amigo. Ele faz um som atmosférico com uma linha minimalista, algumas canções têm letras em português, gravadas assim como as minhas, em casa, prezando o LO-FI. Chama-se O Andarilho:

https://oandarilho20.bandcamp.com/album/vamos-morar-nas-montanhas

GM: Alguma faixa nova, alguma novidade enfim para os fãs????
Édy: Bom, creio que cheguei a mencionar um novo projeto quando a entrevista teve início, em julho (!!!). Ele foi bem mais trabalhoso, levou um bom tempo, pois estive adoentado, mas consegui finalizar. Gravei 3 faixas apenas, para duas delas fiz “videoclipes” com cenas do espaço, e a última, mais “pesada” por assim dizer, ganhou um vídeo com imagens de guerra, pois trata justamente disso. São na linha Post-Rock/Space Rock.
A verdade é que não mostrei nem para pessoas próximas, pois continuei me mantendo afastado do meio social para tratar da minha saúde. Semana passada que divulguei no meu perfil do facebook, mas desde julho já estavam no youtube. Caso queira ouvir, este é o link da primeira e nas sugestões já aparecem as outras duas:

 

GM: Foi uma grande honra ter esta conversa!

Édy: Eu sou muito grato pela oportunidade e lhe desejo sucesso. É um trabalho de extrema importância este, de abrir espaço para bandas e projetos – pois ainda que o espaço virtual esteja sendo muito bom para os músicos, principalmente underground, blogs de crítica e divulgação são essenciais. Fazem com que os trabalhos alcancem um público que, de maneira física, não seria tão fácil; no passado tínhamos revistas físicas fazendo isso, ainda assim não era algo ilimitado visto que nem todos conseguiam comprar. Hoje com a internet no mundo todo o alcance, de fato, é ilimitado.
Obrigado! 😊

Acompanhe a produção de Édy Leonardo em seu canal no YT!

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