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Entrevista com o projeto nacional de blackgaze GRAY SOUVENIRS
GRAY SOUVENIRS é um projeto nacional de blackgaze que pode facilmente adentrar a galeria de imortais do gênero. Ele não apenas tem um sonoridade incrível, com guitarras pesadas atacando belíssimas linhas de teclado, como tem ainda vocais poderosos, intensos momentos melódicos e mudanças de tempo bastante interessantes. Em menos de um ano GRAY SOUVENIRS já conta com três lançamentos (além de um faixa avulsa muito especial) que mostram um crescimento significativo e apresenta todos os sinais de uma música que está aqui para ficar!
Putrefactus, o jovem homem por trás desta verdadeira parede sonora, foi muito receptivo e amável durante nossos conversas via FB. Nós conversamos sobre seus projetos paralelos, seu processo criativo e também sobre o futuro do projeto. Mais importante: ele nos permitiu conhecer, em primeira mão, a arte e, com exclusividade, o primeiro single de seu próximo lançamento, o álbum Serena.
Acesse a página do projeto na Bandcamp
Putrefactus: A Gray Souvenirs surgiu quando eu ganhei minha primeira guitarra como presente de aniversário, então pode-se dizer que ela nasceu no mesmo dia do meu aniversário, 4 de fevereiro – só que de 2015. Na sua primeira formação a banda contou com a participação de Skymning (guitarras base) que após o lançamento de Ventos da Transcendência veio a deixar o projeto. Primeiramente, tinha em mente fazer um som mais voltado pro blackgaze/DSBM, porém com o passar do tempo as composições tenderam mais pro lado blackgaze, shogeaze e post-black metal com influências fortes de Alcest, Amesoeurs, Les Discrets, Lantlôs, Shyy e …(DotDotDot).
GM: Vc teve algum projeto musical antes disso?
Putrefactus: Sim, chamava-se Putrefolah, era um depressive rock inspirando em Apati, Happy Days entre outros.
GM: Este projeto tinha interação física ou era apenas virtual? Ele rolou de quando a quando?
Putrefactus: Era virtual, teve apenas um lançamento chamado Fade Way Forever e durou de junho de 2014 até fevereiro de 2015, quando comecei tinha 16 anos.
GM: Por favor, conte um pouco sobre a formação do seu gosto musical.
Putrefactus: Desde criança nunca me contentei com as musicas que me eram apresentadas, sempre procurava outras, fui apresentado ao rock por amigos de colégio aos 9 anos ouvia Gun’s N’ Roses, Deep Purple, Bee Gees e outros artistas. Porém quando fui ficando mais velho fui descendo os degraus, se é que você me entende. Passei a ouvir new metal aos meus 10/13 anos, bandas como System of a Down, Korn, Slipknot. Através da internet conheci bandas novas e fui me inclinando pro lado do power metal e symphonic black metal, onde passei a ouvir Rhapsody Of Fire, Angra, Shaman, Sonata Artica e através dessas conheci as primeiras bandas de black metal, que amo até hoje, Dimmu Borgir e Cradle Of Filth, daí foi uma estrada mágica até o post-black metal/shoegaze, gêneros que mais ouço hoje e entre os quais se encontram minhas bandas favoritas: Alcest, Deafheaven, Slowdive, My Bloody Valentine.
Então eu fiz uma pausa e escutei algumas faixas avulsas de Putrefolah no YT.
GM: Pelo que pesquisei, o álbum do Putrefolah não foi lançado oficialmente, certo?
Putrefactus: Exatamente. Acho que não tinha qualidade suficiente, apesar de ter sido feito com bastante zelo.
Gray Souvenirs is a blackgaze brazillian project that can easily join the immortal hall of the genre. The project not only have an amazing sonority, with harsh guitar chords striking creative and beautiful synth lines – it has powerful vocals, intense melodic moments and interesting tempo changes. In less than a year GS counts three releases (besides a special loose track) wich shows a significative growing and the signals of a music that is here to stay.
Putrefactus, the very young man behind this wall of sound, was very receptive and kind along our contacts via FB. We talked about his various side projects, his creative process and about the future. More special: he give us, in first hand, a glance to the art and, with exclusivity, the first single of his next release, the album Serena.
Putrefactus: Gray Souvenirs appeared when I won my first electric guitar – so we can say that it was born at the same day of my birthday, in february 4 of 2015. In the early formation the band counts with Skymning, wich leaves after the relese of Ventos da transcendência. In the beggining, I was willing to make a sound more focused in blackgaze/DSBM, but with the times my compositions get more to blackgaze, shoegaze and post-black metal, with strong influence of Alcest, Amesoeurs, Les Discrets, Lantlôs, Shyy and … (DotDotDot).
GM: Do you had any musical project before that?
Putrefactus: Yes, it was called Putrefolah, a depressive rock inspired by Apati, Happy Days and others.
GM: This project had some physical interaction or was only virtual? He rolled from when to when?
Putrefactus: Was virtual, had only one release called Fade Way Forever andlasted from june 2014 until february 2015, when I was 16 yo.
GM: Please tell us about the development of your musical taste.
Putrefactus: Since I was a child I never contented myself with the songs that were presented to me, I was always looking for more. I was introduced to rock by high school friends, by 9 years I was listening to Gun’s N’ Roses, Deep Purple, Bee Gees and other artists. But when I got older I went down the steps, if you know what I mean. I started to listen new metal ‘round 10/13 years, bands like System of a Down, Korn, Slipknot. Internet later introduced me to new bands and I was leaning to the power metal and symphonic black metal, so I started to listen Rhapsody Of Fire, Angra, Shaman, Sonata Artica and through these I met the first black metal bands, which I still love today, Dimmu Borgir and Cradle Of Filth. Then a magical road took me to the post-black metal/shoegaze, the genres that I hear more today, where are situated my favorite bands: Alcest, Deafheaven, Slowdive and My Bloody Valentine.
So, I took a pause and listened to Putrefolah loose tracks at YT.
GM: From what I researched this album was not officially released, right?
Putrefactus: Exactly. I think we did not have enough quality, despite having done with all care. Continuar lendo →
Ele não tem idade legal para dirigir ou para comprar uma cerveja – mas há menos de dois meses lançou seu primeiro EP, Endless dreams (ainda independente), e está em uma corrida contra o tempo para lançar seu primeiro full antes de completar 18 anos.
Daydream é o projeto de um hom… digamos, um adolescente só, representando nosso país no cenário do post-metal e blackgaze com muita propriedade. Eu o conheci graças a uma rede informal de articulação do underground, por mil ramificações, que se solidificou no canal do italiano Teddy Gibins.
Desde o final da década de 70, para não dizer desde sempre, o underground tem desenvolvido estratégias particulares de desenvolvimento e com o advento da web temos o desenho de uma rede bastante singular de sustentação. Se não fosse por esta rede, como veremos na conversa abaixo, é bem possível que Endless dreams, como ademais diversos outros álbuns, não existisse – visto que ele foi lançado, de modo 100% independente, sem o apoio de qualquer selo ou gravadora, mas não está em lugar nenhum, isto é, por falta de recursos não está sediado em um site de hospedagem, como a Bandcamp.
Na conversa abaixo, realizada via chat por FB, vamos conhecer mais um pouco sobre os ‘sonhos infinitos’ de P.
GM: Podemos começar com o título do projeto?
P. : Podemos sim. O nome Daydream surgiu há um tempo, antes mesmo deu começar a colocar em prática o projeto em si, significa Devaneio. Sabe, eu nunca fui um cara muito sociável, a Daydream é quase um sonho, uma Utopia digamos assim, para me distrair dos problemas dos quais eu tento fugir.
GM: Incrível.
Algo a ver com Sandman?
P. : Sim e não, Sandman sempre foi um dos meus personagens preferidos, incrível você citar ele, quando eu era pequeno, tinha diversos quadrinhos dele, mas bem, sim pela Daydream ser um capricho, um sonho meu, e não, por não influenciar em nada nas letras, e nem na proposta, pois com letras comecei há pouco tempo.
GM: De fato, vivemos em um mundo onde as referências se cruzam o tempo todo. Qual é a sua idade?
P. : Eu tenho 17 anos.
GM: Hã… vc está falando sério?
P. : Sim, 17 anos amigo… haha! Por que o espanto?
GM: Cara, estou de queixo caído…
Bem, voltando ao foco, eu conheci o Daydream graças ao YT, mais precisamente ao Teddy Gibins, um cara que eu considero um herói do underground. Como vc o conheceu?
P. : Bom, o Teddy sempre apoiou e continuará apoiando bandas novas (como o próprio me disse). Eu o conheci quando postou um projeto DSBM meu com um amigo da Bahia, outro grande músico, com quem aprendi muito, tanto no aspecto musical quando em mixagem. O projeto chama-se Selvmord, comecei a atuar sozinho após isso, Loser (Worros) se juntou a mim, bem, foi assim que tive conhecimento do canal do Teddy.
GM: Você poderia compartilhar conosco sua primeira memória musical?
P. : Olha, não é algo convencional, mas o primeiro musico que me interessou a ponto de ser fã, foi Joe Bonamassa, eu tinha meus 10 anos de idade, logo após comecei a me interessar por bandas de Rock e Metal e, com isso, com meus 15 anos, um tio me apresentou ao Black Metal, e foi algo surreal sabe, energia, sentimento, significado… Eu sempre fui afastado de todos, com o Black Metal isso passou a não importar muito pra mim.
GM: Quais estilos musicais você escuta atualmente? Você se julga uma pessoa mais fechada ou mais aberta?
P. : Me julgo aberto musicalmente, acredito que toda arte tem seu reconhecimento, qualquer música que passe sentimento às pessoas é válida. Os gêneros que mais escuto atualmente são o Post-Black Metal, Atmospheric Black Metal e música Celta (BM, Folk), acredito que os três gêneros dominam minha Playlist.
GM: Então, para que as coisas fiquem claras, antes do Daydream você participou do Selvmord [no Metal Archives constam 4 outras bandas/projetos com o mesmo título], é isso?
P. : Exatamente. Atualmente trabalho em outros 3 projetos, Uncaladon (Cosmic Black Metal), Oak (projeto acústico, não lançado ainda) e Spektral Agony (DSBM).
GM: No caso, vc está levando todos estes projetos paralelamente, algum está encerrado, algum tem prioridade, como vc lida com tudo isso?
P. : Bom, como disponho de pouco, eu tento conciliar tudo, minha prioridade é a Daydream e Uncaladon, a Spektral seria algo paralelo, eu apenas auxilio na produção, quem bola as letras é o Gabriel, que é, digamos, quem “empresaria a banda”.
GM: Bem, vamos nos focar no Daydream agora. Quanto tempo vc levou para ‘compor’ o álbum?
P. : No total foram 2 meses, desde criação das melodia até as letras.
GM: Hum… letras? [as 4 faixas são todas instrumentais]
P. : Sim sim, essa seria a parte que preciso explicar, a proposta inicial do projeto seria melodia e letra, mas enfim, aconteceu que eu decidi deixar as letras de lado e me focar apenas na melodia, assim como algumas bandas que me inspiram… Líam, Euphoria, etc.. gostei do resultado e decidi deixar do jeito que estava.
GM: Até o momento, Endless dreams foi lançado mas não tem um site, digamos. Pq?
P. : Por falta de investimento mesmo, estou a pouco de criar uma página na Bandcamp, apenas a Daydream, pq com os outros projetos já tenho esse auxílio de alguns produtores amigos. Como Daydream ainda não recebeu nenhuma proposta de lançamento físico, terei eu mesmo que criar um hospedeiro específico.
GM: Mas vc também não pensou em disponibilizar o álbum gratuitamente, até o momento.
P. : Não, ainda não tive tempo de upar em algum lugar, talvez mês que vem faça isso, exatamente por ter 17 anos o tempo se torna corrido e disputado entre trabalhos escolares e cursos.
GM: Com certeza!
Compôr um álbum em dois meses é feito e tanto!
Eu estava justamente em vias de te perguntar sobre vocais quando, poucos dias atrás, o Teddy postou a nova faixa.
Você já está compondo material para o próximo título?
P. : Sim, já estou em processo de produção, talvez demore um pouco mais, por conta do capricho que tenho, se eu não gostar de uma coisa eu recomeço tudo do zero, mas anda correndo tudo bem, até já tem nome e arte para meu próximo trabalho.
GM: E você gostaria de adiantar isso para o público ou prefere guardar segredo?
P. : Claro, será intitulado Nostalgie, a arte já está disponível aqui na página, e pela primeira vez terá algumas faixas com vocais
GM: Antes de passar para o próximo tópico eu gostaria de saber um pouco sobre o seu processo criativo, como as coisas acontecem?
P. : Eu não sei bem explicar como surgem algumas de minhas ideias, eu sou um pouco sensível ao sentimento humano, desgraça, sofrimento, saudade e como o próprio nome sugere, Nostalgia. Não é difícil achar tais sentimentos hoje, numa sociedade que maltrata à si mesmo, então eu simplesmente sento e espero surgir algo que expresse isso, quando não dá certo eu simplesmente adio um dia, é o necessário para que tudo volte a acontecer e fluir minha música.
GM: Parece algo intenso e verdadeiro.
Do ponto de vista técnico, como funciona? Vc tem um quarto de música?
O que vc grava primeiro?
P. : Infelizmente meus recursos são poucos, então o que tenho é um computador, uma guitarra e um violão, a mixagem se dá pelo Fl Studio. Primeiro eu gravo a bateria, que no Endless Dreams foi inteiramente micro-fonada, um amigo me emprestou sua bateria para eu trabalhar, no novo trabalho sairá algo programado com vst, infelizmente.
GM: Cara, tá tudo ótimo, não se preocupe.
Bem, um passo adiante: música.
Vc compra muita coisa, baixa muita coisa, como é? Você curte cd, tape, vinil, como vê essa questão da relação com a sonoridade?
P. : Eu baixo muita coisa, eu conheço muito coisa, eu compro cd’s que mais gosto, de bandas que mais gosto, vinil não sou muito ligado, agora tape, eu acho bem interessante, tenho 2 até agora, Eternal Sorrow e Burzum, com toda certeza eu tento encaixar alguma partícula desses trabalhos na minha música.
GM: Post metal não é exatamente um gênero muito popular. Particularmente, eu diria que sua sonoridade se encontra em um bom meio termo entre a harmonia e desarmonia, a suavidade e aspereza. Vc acredita que no futuro irá explorar alguma outra dimensão, irá caminhar mais para uma dimensão do que para outra?
P. : Creio que sim, apesar de gostar muito de mesclar os dois aspectos, a calmaria do Shoegaze/Post Rock me chama bastante atenção, porém o propósito da Daydream pede não apenas isso, mas também a agressividade do Black Metal, que mesclado a isso gera algo interessante.
GM: Quais são suas perspectivas de projeção junto ao público, vc gostaria de ser conhecido por muitas pessoas, se tornar um mega projeto, como talvez Alcest ou Russian Circles, ou prefere permanecer mais obscuro e underground?
O que o próprio termo underground sugere para você?
P. : Eu sou músico, ou pelo menos me considero um, reconhecimento sempre é bom, o que acontecer pra mim, eu vou gostar muito, seja um grande público, como o obtido por bandas conceituadas, ou obscuro como disse, em honra ao underground.
O termo underground pra mim sempre trás o que é contrário ao conceitual, uma coisa que não deva seguir os padrões instituídos, seja ele qual for.
GM: Discos são muito importantes para mim. Eu gostaria de saber qual é o disco que você mais escutou na vida, qual o que está escutando mais no momento e qual é o melhor álbum de 2015, até o momento, para você.
P. : Os discos que mais escutei na vida são dois, Blackwater Park (Opeth) e Köld (Sólstafir), e os que mais escuto no momento são Souvenirs d’un autre monde (Alcest) e Aokigahara (Harakiri for the Sky).
GM: Você gostaria de recomendar ao leitores alguma banda/projeto nacional obscuro que merece maior reconhecimento?
P. : Uma banda que recomendo a todos, que conheço e nunca deixo de citar, cujo trabalho me fascina, é a Bullet Course.
GM: Alguma mensagem que você gostaria de deixar para os leitores?
P. : Apenas “sem música, a vida seria um erro”, kkkk meio piegas sim, mas é verídico.
Com um pouco de sorte, como vimos, Nostalgie poderá vir a uma sombria luz do dia ainda em 2015. P. já lançou um ‘single’, que upado por Teddy Gibins, e você conferir aqui.