[post #013.1] Entrevista com o projeto nacional de blackgaze GRAY SOUVENIRS

Vozes do Underground

Entrevista com o projeto nacional de blackgaze GRAY SOUVENIRS

 

GRAY SOUVENIRS é um projeto nacional de blackgaze que pode facilmente adentrar a galeria de imortais do gênero. Ele não apenas tem um sonoridade incrível, com guitarras pesadas atacando belíssimas linhas de teclado, como tem ainda vocais poderosos, intensos momentos melódicos e mudanças de tempo bastante interessantes. Em menos de um ano GRAY SOUVENIRS já conta com três lançamentos (além de um faixa avulsa muito especial) que mostram um crescimento significativo e apresenta todos os sinais de uma música que está aqui para ficar!

Putrefactus, o jovem homem por trás desta verdadeira parede sonora, foi muito receptivo e amável durante nossos conversas via FB. Nós conversamos sobre seus projetos paralelos, seu processo criativo e também sobre o futuro do projeto. Mais importante: ele nos permitiu conhecer, em primeira mão, a arte e, com exclusividade, o primeiro single de seu próximo lançamento, o álbum Serena.

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Acesse a página do projeto na Bandcamp

 

Putrefactus: A Gray Souvenirs surgiu quando eu ganhei minha primeira guitarra como presente de aniversário, então pode-se dizer que ela nasceu no mesmo dia do meu aniversário, 4 de fevereiro – só que de 2015. Na sua primeira formação a banda contou com a participação de Skymning (guitarras base) que após o lançamento de Ventos da Transcendência veio a deixar o projeto. Primeiramente, tinha em mente fazer um som mais voltado pro blackgaze/DSBM, porém com o passar do tempo as composições tenderam mais pro lado blackgaze, shogeaze e post-black metal com influências fortes de Alcest, Amesoeurs, Les Discrets, Lantlôs, Shyy e …(DotDotDot).

GM: Vc teve algum projeto musical antes disso?
Putrefactus: Sim, chamava-se Putrefolah, era um depressive rock inspirando em Apati, Happy Days entre outros.

GM: Este projeto tinha interação física ou era apenas virtual? Ele rolou de quando a quando?
Putrefactus: Era virtual, teve apenas um lançamento chamado Fade Way Forever e durou de junho de 2014 até fevereiro de 2015, quando comecei tinha 16 anos.

GM: Por favor, conte um pouco sobre a formação do seu gosto musical.
Putrefactus: Desde criança nunca me contentei com as musicas que me eram apresentadas, sempre procurava outras, fui apresentado ao rock por amigos de colégio aos 9 anos ouvia Gun’s N’ Roses, Deep Purple, Bee Gees e outros artistas. Porém quando fui ficando mais velho fui descendo os degraus, se é que você me entende. Passei a ouvir new metal aos meus 10/13 anos, bandas como System of a Down, Korn, Slipknot. Através da internet conheci bandas novas e fui me inclinando pro lado do power metal e symphonic black metal, onde passei a ouvir Rhapsody Of Fire, Angra, Shaman, Sonata Artica e através dessas conheci as primeiras bandas de black metal, que amo até hoje, Dimmu Borgir e Cradle Of Filth, daí foi uma estrada mágica até o post-black metal/shoegaze, gêneros que mais ouço hoje e entre os quais se encontram minhas bandas favoritas: Alcest, Deafheaven, Slowdive, My Bloody Valentine.

Então eu fiz uma pausa e escutei algumas faixas avulsas de Putrefolah no YT.

GM: Pelo que pesquisei, o álbum do Putrefolah não foi lançado oficialmente, certo?
Putrefactus: Exatamente. Acho que não tinha qualidade suficiente, apesar de ter sido feito com bastante zelo.

GM: Putrefolah tem fortes acentos DSBM, não necessariamente em consonância com o que mencionou estar ouvindo. O que originou esta guinada depressiva?
Putrefactus: Eu nunca tive perspectivas positivas sobre a vida, acredito que isso, somado à minha total solidão, fez com que as letras soassem tão niilistas. Fato curioso: uma das musicas da Putrefolah tem letra em português, inglês e francês!
Vale lembrar que eu passava por problemas de saúde envolvendo a visão que me deixavam ainda mais pra baixo

GM: Imagino.
Notei que vc usou vocoders no primeiro lançamento, mas não no segundo… o que houve?a0627494059_16
Putrefactus: O primeiro lança-mento tinha uma atmosfera mais voltada pro depressive black metal, o que gerou um bom resultado com o vocoder. Já no segundo eu passei a usar mais reverb e delay pelo fato da atmosfera estar mais “positiva” com letras mais voltadas à nostalgia e à vida urbana.

GM: Eu não classificaria como ‘positivas’, mas entendo o que quer dizer…
Putrefactus: Dai as aspas…

GM: Certo.
O intervalo entre os lança-mentos é bastante curto.
Putrefactus: Realmente, eu não considero o meu “talento musical” como um dom mas sim como fruto de um trabalho pesado, nunca me contento com o mediano, busco sempre a excelência em todos os meus trabalhos – tanto na Gray como na Lumnos, The Plague Doctor e outros.

GM: Devemos considerar que vc passa bastante tempo compondo, portanto…
Putrefactus: A minha vida se resume à musica e não encaro ela apenas como uma diversão ou algo como esportes ou lazer, é um instrumento real de transformação de vida. A música transcende, a música transforma, a musica eleva.

GM: Até onde sei você também estuda, correto? Como consegue conciliar tudo isso?
Putrefactus: O ano de 2015 foi pra mim o último ano escolar, conhecido aqui no Brasil como ensino médio. Por eu ser um cara que sempre preferiu estar em casa ao invés de sair ou coisa do tipo, o tempo que me restava em casa, quando não estava me preparando pras provas, foi empregado em compor e, analisando agora, vejo que fui bastante produtivo.

GM: Com certeza! Em consonância com sua sonoridade, você parece não ter uma vida social muito agitada…
Putrefactus: Exatamente, eu sou discreto. Em contrapartida um dos meus hobbies é fotografar e o que mais fotografo são pessoas aleatórias, grandes centros, pontos de ônibus, rodovias, tudo que expresse a dependência e o caos do ser humano no mundo pós-moderno.

GM: Vc vê a si mesmo como um observador da melancolia urbana???
Putrefactus: Observador e participante.

GM: Ok.
Entre o primeiro lançamento e o segundo temos algumas mudanças – vc passou a usar o inglês, fundamentalmente, ao invés do português, e diminuiu a dose de DSBM. Como se deu essa mudança?cover
Putrefactus: Excelente observação.
Acredito que foi mais uma superação pessoal do que algo envolvendo pura e simplesmente minha proposta musical, estava passando por uma fase tenebrosa quando lancei o Ventos da Transcendência, mas do meio pro final do álbum já fui mudando meu posicionamento. Acontece que recentemente eu tinha terminado um relacionamento de 2 anos e isso foi, de certa forma, transcrito em Ventos da Transcendência. Com Lost in city colors eu me desliguei dos vínculos emocionais e passei a escrever mais sobre minha percepção de espaço, vida, mundo ou seja é uma visão mais “positiva” como havia dito.

GM: Isso nos ajuda a compreender seu estado de espírito, mas não a escolha de um nova língua.
Putrefactus: Escolhi a nova língua para me tornar mais aberto a meu maior público, que era de fora do Brasil. E por soar melhor que o português para a nova proposta.

GM: Vc acredita que o público brasileiro ainda não está muito aberto ao blackgaze???
Putrefactus: Na verdade o público brasileiro não está aberto a artistas brasileiros, vejo bandas como Alcest, Deafheaven, Lantlôs, Ghost Bath fazendo um bom sucesso no cenário underground, mas bandas boas como Mepth, Worros, Bullet Course não alcançarem uma boa repercussão aqui.

GM: Eu notei um certo tom de Ulver em Lost in the city colors.
Putrefactus: Ulver é uma grande influência para o lado mais atmosférico da Gray, assim como Líauste.

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GM: Poucos meses depois você já lançou um single novo, agora mais ensolarado e em francês…
Putrefactus: Éternelle foi pensada para ser uma faixa do próximo full-length, porém surgiu a oportunidade de fazer uma parceria com a banda americana In Search Of, daí deixei a faixa para o split. Ela tem um caráter até mesmo voltado pro post-punk e mostra que agora definitivamente a Gray está caminhando para um lado mais blackgaze/shoegaze que nunca. A letra em francês surgiu por admirar bandas do mesmo país como Alcest, Amesoeurs, Lantlôs, Les Discrets. Acredito que o berço do blackgaze esteja na França.

GM: Como se dá o seu processo criativo? Vc grava tudo em casa ou em estúdio?
Putrefactus: Gravo tudo em casa, faço todo o processo de masterização, mixagem, chego a fazer até algumas artworks, tudo é muito self-made aqui.

GM: Todas as artes são de sua autoria?
Putrefactus: Eu procuro dar espaço para amigos fotógrafos e fico encarregado apenas da parte de finalização da arte.
Alguns que trabalharam comigo foram Campelo, Haroldo Beyer, Alfredo Annie e Luper Kalia. Porém a arte do single Éternelle é minha.

GM: Vc tentou encontrar gravadoras para lançar seus trabalhos???
Putrefactus: Tanto o Ventos… como o Lost in city colors foram lançados pelo selo Depressive Illusions Records.

GM: Grande notícia! E como tem sido sua experiência com a Bandcamp?
Putrefactus: Eu confesso que o retorno tem sido mais positivo do que imaginava pois não tenho o lucro como uma meta do meu trabalho, até porque coloquei todos os meus lançamentos como Free/Name your price, porém ainda sim alguns optaram por comprar os lançamentos.

GM: E vc se sente confortável com sua posição no cenário musical ou gostaria de se tornar maior, mais conhecido? Quais são suas expectativas com a Gray Souvenirs?
Putrefactus: Eu me sinto confortável com o rumo que as coisas estão tomando, conheci bastante gente que admirava através da Gray, sinceramente não tenho ambição de me tornar referência para alguém – porém se isso acontecer será devido a um trabalho sincero feito por mim. Minhas expectativas são que eu consiga estar sempre melhorando para alcançar um nível musical tão sublime que leve as pessoas a se elevarem, assim como eu me elevo ao produzi-las.

GM: Acabei me esquecendo de perguntar antes: existe alguma história por trás do nome do projeto, você poderia nos falar um pouco sobre isso?
Putrefactus: Souvenirs é uma rerência direta a Souvenirs d’um autre monde, do Alcest, e Gray é uma referência ao cinza da cidade, dos prédios, das ruas, das pessoas, do céu nublado.

GM: Legal.
Ao longo de nossa conversa vc mencionou alguns outros projetos. Como se envolveu com eles?
Putrefactus: Atualmente, além da Gray e Lumnos tenho o The Plague Doctor como banda ativa. Convidado por B. da Beyond The Dawn, faço os vocais do projeto; me envolvi com o mesmo quando mandei uma mensagem de parabenização. Quanto às bandas anteriores, Abisma e Nostalgia, conheci Skymning e Slov via um grupo no facebook DSBM /Atmospheric – Brasil.

GM: Entendi. Estou escutando seus projetos paralelos, agora.
A sonoridade do Nostalgia é bem diferente, com uma pegada… mais punk, mais agressiva?
Putrefactus: Exatamente, Nostalgia foi pensado pra ser um projeto mais agressivo, voltado pro post-punk. Porém com influências fortes de DSBM como Ofdrykkja e Lifelover.

GM: Como se deu a formação da Plague Doctor???
Putrefactus: Eu fui convidado ano passado por B. Até onde eu sei algumas músicas do TPD eram pra ser do Vinxeta, outro projeto do B., porém acabaram indo pra Plague Doctor. Ele precisava de um vocal e como curtia os meus trabalhos acabou por me chamar pra participar.

GM: Este foi um projeto totalmente virtual, correto?
Putrefactus: Correto.

GM: Vc já lançou um cover do Slowdive [via página do FB] e outro do Alcest. O que mais devemos esperar em termos de tributos e homenagens?
Putrefactus: Cara essa foi uma excelente pergunta, sempre que posso estou gravando ou tocando músicas de outros artistas que curto e eu ouço bastante coisa fora do black metal, pro próximo álbum estou pensando em um cover da Lana Del Rey, Woodkid ou The Smiths!

GM: Ótimo mesmo!
Bem, e quanto ao futuro? Você já está trabalhando em algo, quais são seus planos para 2016?
Putrefactus: Estou trabalhando em um split com Anti-Society, Loneliness e Broken Mirror, além disso em outro split com a banda de um grande amigo meu, Loser da Worros. Para fevereiro e março, respectivamente.
E planejo um full-length pra maio ou junho, provavelmente junho! Inverno no hemisfério sul.

GM: Realmente mais um ano cheio!
Quanto à música: já deu para perceber que vc gosta de muitas coisas. Qual é o album que vc mais escutou, em toda sua vida, e qual seria o melhor album de 2015?
Putrefactus: Sem dúvida o álbum que marcou a minha vida foi Souvenirs d’un autre monde do Alcest, esse álbum com todas as músicas e todas as letras me transcreve perfeitamente, acredito que Neige não seja desse mundo realmente. E o melhor álbum de 2015, pra mim, foi o New Bermuda do Deafheaven, depois de ouvir Sunbather não tive dúvida que esses caras iam destruir no próximo lançamento, as faixas são muito concretas com melodias incríveis, é um nível sublime de composição.

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GM: Existe alguma banda/projeto underground que vc julga que deveria receber mais atenção?
Putrefactus: Sim, Worros é um projeto brasileiro mais voltado pro DSBM com um uma qualidade muito boa, assim como a banda Mepth que é BR. Além delas Shadowland é uma banda que deveria ter uma atenção maior, assim como Sorrow Plagues que tem uma qualidade incrível. Outras menções: Blurry Lights, Bullet Course, Beyond The Dawn, Anti-Society.

GM: Muito bem! Muito obrigado por tudo!
Putrefactus: Obrigado pela oportunidade!

Putrefactus então revelou a arte do novo single, Serena, e que agora Gray Souvenirs é uma banda!

Putrefactus: todos os instrumentos                 Loser: vocais, letras

Pulver: arte                                      Bruno Tortorello: Mix Bonus Track

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E aqui está, como prometido, um presente para os fãs: o novo single para download gratuito.

Curta a página da Gray Souvenirs no FB.

Escute ou baixe os álbuns na Bandcamp.

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